domingo, 22 de março de 2009

Apaixonados Virtuais

“Viúva virgem entra na sala”.
Era ela.
“Gato maluco entra na sala”.
Era ele.
-Viúva virgem?! Me explica isso!
-Ah, há, há, há... é só um apelido!
-Ainda bem...de onde você é e qual é sua idade?
E ela contou.
- Tenho cinquentinha, sou de Amparo, SP.
-Tenho 55 sou de Assis, Também SP.
O papo rendeu.
Todas as noites, ao voltar do trabalho, ela corria pro site.
Tava viciada. Começou a embarcar nos devaneios, acreditava em tudo que ele dizia, até quando ficava evidente que ele estava inventando.
Um dia, bateu o ciúme, esse monstro de olhos verdes.
Ao se despedir dele, zonza de sono, resolveu entrar de novo.
Trocou o apelido para “gatinha sensual”.
O infeliz nem tinha saído, nem se dera ao cuidado de trocar de nick, tava lá, belo e fogoso.
Ela atiçou:
-Olá, vamos conversar?
-Vamos ,claro. Sua idadezinha, querida?
-Vinte e oito e você?
-Eu trinta.
A cada nova mensagem, mais ódio ela sentia. O desgraçado, cada vez mais, se mostrava como era.Um traíra cafajeste.
Pediu para ser seu namorado virtual. Ela de raiva, aceitou. Queria apenas se vingar e não aparecer no dia seguinte.
Mas que nada! No outro dia, assim como ele, também ela apareceu pontualmente.
Quanto ao “outro”, o de 55 anos, ela parou de “ver”.
Um dia perguntou ao “novo”, o de 30 anos, se já tivera algum namoro virtual.
Ele respondeu, cândido:
- Não... Nunca tive nada sério. Estou decepcionado com as mulheres.Elas só querem sexo!
Ah!!!!! Desgraçado, desgraçado, desgraçado! E as promessas de amor eterno? Eu vou matar esse peste!
Mas ao mesmo tempo em que se sentia traída,enganada pelo antigo amor, começou a gostar mais ‘desse”.
Incrível, ele, quando se fazia passar por jovem, se soltava, parecia um menino feliz. Positivamente, ela gostava mais “desse”.
Teclaram uns três meses assim. Então ele começou a parecer meio distante, não era mais o cara alegre e espirituoso de sempre, faltava aos encontros nas salas, ou entrava com apelidos estranhos.
Quando viu que a coisa já havia dado tudo que podia render, ela também puxou o carro.
Um dia ela resolveu inovar e entrou no chat passando-se por um garoto de vinte anos, universitário e riquinho. Disse que já havia morado no exterior, mais precisamente na Espanha, (por causa do idioma, seria mais fácil imitar, se ele pedisse provas de que ela falava espanhol).
Ele também veio àquela tarde usando um apelido novinho em folha, agora dizia-se um homem de quarenta anos, rico, viajado, mas que adorava meninos.
Foi logo perguntando: Será que eles poderiam levar um papo?
Mas ela depressa descobriu a maracutaia.
Não adiantava, os dois haviam teclado por mais de um ano, todas as noites. Ela conhecia exatamente o jeito dele escrever, os maneirismos, as piadinhas, até os pequenos erros de português que ele deixava escapar ela já sabia quais eram.
Parecia até que conhecia o sujeito por dentro, ela o via como se ele estivesse numa máquina de raio x.
Ela, que havia entrado com o apelido “Menino de short curto” ficou louca da vida! Então quer dizer que o safado topava tudo?
“Agora ele me paga - ela pensou - Vou dizer que sou mulher, que sei que ele é ele “
Já estava prestes a mandar a mensagem, quando parou e refletiu:
Afinal, o que ela iria desmascarar? Quem de fato era aquela pessoa? Qual seria a sua idade real? E a sua realidade, qual era? Qual, de fato, seria o seu verdadeiro sexo? E se ele fosse também uma mulher?
Deu de ombros e apagou a mensagem já digitada. Ao invés disso, digitou outra, na qual escreveu:
-Claro que podemos nos conhecer melhor...lá em Madri, onde papai era diplomata, eu tive vários casos com rapazes mais velhos...
Pronto! Mandou a mensagem.
Agora era esperar para ver no que ia dar.
Não se sentia mais traída nem enganada.
Afinal de contas, de um jeito ou de outro, era para ela que ele sempre voltava!
* * *
Os direitos autorais deste conto pertencem a Maria das Neves A. Braga. Publicado com exclusividade no blog “Antenados” . Se copiar, por favor repasse com os devidos créditos.
Obrigada.
Março/2009